Grupo Conviva

Autor -Talita Ribeiro Passoni

A memória musical e o testamento vital

Muitas pessoas não sabem, mas hoje já existe apossibilidade de deixar registrado tudo o que querem e desejam. Através de uma declaração que antecipa sua vontade, num conjunto de instruções especificando e detalhando quais procedimentos, a pessoa escolhe quais tratamentos e atitudes devem ser tomadas em determinadas circunstâncias onde você já não responde mais por si, ou está acometido de uma demência. Esse registro/documento se chama Testamento Vital.

Tendo a consciência da importância da música na vida do ser humano, sabendo que ela acompanha as várias fases da nossa vida, como uma verdadeira trilha sonora, nos trazendo lembranças, emoções, imagens, e tantas outras coisas, pode ser incluso neste testamento vital todas as músicas consideradas importantes na vida do indivíduo, ou seja, aquelas que fazem sentido para ele, que o acompanharam em várias situações, o acolheram, foram oferecidas, e que na presença de uma demência poderão auxiliar, quando ninguém souber responder por pela pessoa quais são seus gostos específicos.

Na Musicoterapia buscamos as potencialidades existentes no indivíduo com demência, utilizando a linguagem musical , estabelecendo conexões profundas, alcançando níveis de memória (pois a memória musical é a última a ser perdida) da mais arcaica até a recente, ocasionando momentos de bem-estar e prazer ao reviver passagens de sua história pelas trilhas sonoras cantadas/escutadas; e assim resgatando e reforçando sua identidade. O idoso com Alzheimer, por exemplo, consegue expressar-se musicalmente mesmo com o avanço do quadro demencial.

Há um poder na música que pode transcender a linguagem, pois as memórias musicais com frequência sobrevivem as habilidades verbais. Geralmente a memória categoriza nossas emoções frente a situações vividas.

Como diz Oliver Sacks: “A música certa pode servir para orientar e ancorar um paciente quando quase mais nada é capaz de fazê-lo”.

Pare e pense. Que músicas você colocaria no seu testamento vital?

Qualidade de vida: Contribuições da Musicoterapia para o Idoso

A Musicoterapia utiliza a criatividade para otimizar o processo de envelhecimento do idoso, através do estímulo de suas capacidades físicas e intelectuais por meio de experiências musicais. Através de músicas que fizeram parte de sua história, estimula-se funções mentais, resgatando memórias e despertando interesses; contribuindo assim para sua qualidade de vida.

Os efeitos que a música provoca no ser humano são muitas vezes imediatos, tanto na parte motora quanto emocional. A música tem o poder  de ultrapassar barreiras e gerações, transcender o tempo, aproximar momentos e datas, e ressignificar memórias, sendo este o pano de fundo da trilha sonora do “filme da nossa vida”. Na Musicoterapia trabalhamos um “vale a pena ouvir de novo”, com uma nova visão do momento vivenciado.

A Musicoterapia permite ao idoso ampliar o sentido da “velhice”, a percepção de compreender que  recordar , muitas vezes, não é reviver, mas refletir novamente com as idéias e sabedoria adquiridas até o momento . Trabalha-se essas memórias  musicalmente de modo prazeroso, sempre elaborado com critério terapêutico, recuperando musicalmente aspectos parcialmente perdidos. Esta aceitação do contexto atual e autovalorização é de extrema importância pois mexe com a autoestima.

Dessa forma, os principais objetivos terapêuticos traçados na Musicoterapia  são aumento da autoestima, integração/interação/socialização , diminuição da ansiedade e agressividade, melhora do humor, fortalecimento da identidade, resgate e estimulação da memória, estimulação motora, orientação espacial e temporal.