Quem não gosta de saborear um bom alimento junto à família ou reunir pessoas queridas à frente de uma mesa recheada de sabores, para comemorar uma data especial?
Alimentar-se deixa de ser apenas uma condição para manter a nutrição e a hidratação, está relacionada a manter-se feliz e a participar ativamente da sociedade.
Há uma fase da vida, a velhice, em que o ato da alimentação pode apresentar dificuldades devido a alterações na deglutição (ato de mastigar e engolir). A falta de dentes e a necessidade do uso de próteses dentárias influenciam na eficiência mastigatória, o que acarreta na escolha de alimentos mais amolecidos ou suspensão de alimentos mais solidificados.
A diminuição de força da língua, a redução do fluxo salivar, a diminuição do paladar, a diminuição da força muscular faríngea (”garganta”) e a diminuição do movimento da laringe (estrutura localizada na entrada do pulmão), contribuem para a diminuição da força para engolir, da presença de resíduos alimentares na garganta e ao risco do alimento ou líquido entrar no pulmão, ou seja, maior presença de tosses e engasgos.
O idoso saudável realiza compensações para manter a deglutição eficiente e para evitar que os alimentos ou líquidos ingeridos entrem no pulmão, como por exemplo: tosse para expelir o conteúdo, engole várias vezes ou pigarreia até sentir que o alimento ou líquido foi encaminhado para o local adequado: o esôfago (caminho para o estômago).
Com o envelhecimento surge a maior ocorrência de doenças crônicas como o Acidente Vascular Cerebral, a Doença de Parkinson, a Doença de Alzheimer e outras doenças que permitem a fragilização do idoso.
As alterações da deglutição potencializam-se e assim, há maiores prejuízos na qualidade da nutrição e risco significativo do alimento ou líquido direcionarem-se para o pulmão (chama-se a isso: broncoaspiração). Em consequência, pode haver pneumonias recorrentes, diminuição do prazer alimentar e isolamento social (o idoso evita alimentar-se em público).
Alguns medicamentos utilizados por esta população também podem influenciar no pior desempenho para engolir.
Nestas condições, a alteração da deglutição passa a ser chamada de disfagia. O idoso pode apresentar uma ou mais das seguintes características durante a ingestão de alimento ou líquido:
- Escape de alimentos para fora da boca;
- Demora em alimentar-se;
- Resíduos dentro da boca mesmo após engolir;
- Tosse, engasgo, pigarro;
- “Voz suja” (voz rouca, aparenta “borbulhar”);
- Cansaço, alteração da respiração;
- Mudança de coloração da pele.
O que fazer durante a ingestão de alimentos e líquidos para minimizar as consequências da disfagia?
- Verifique se as próteses dentárias auxiliam a deglutição e, se necessário, procure um dentista para melhor avaliação;
- Diminua as distrações (desligue rádio e televisão, etc.);
- Mantenha o idoso sentado ou a cabeceira mais elevada possível;
- Converse com o idoso sobre o que ele vai ingerir, mesmo que o alimento esteja batido e resgate vivências relacionadas aos alimentos ingeridos;
- Ofereça utensílios que seja de fácil manipulação para cada idoso (Ex: cabo da colher mais grosso para maior apreensão, copo mais leve, uso de canudo ou colher para controle do volume ingerido, etc.);
- Incentive o idoso a abocanhar a colher/garfo, evitando despejar o alimento dentro da boca;
- Ofereça o alimento na mesma altura e à frente do idoso;
- Incentive engolir a seco em alguns momentos, para evitar permanência de resíduos em boca e garganta;
- Realize algumas pausas rápidas para evitar o cansaço;
- Se o idoso demora a engolir, dê pistas a ele como um toque em bochechas e comandos como “Engole!”;
- Se o idoso tossir ou engasgar, solicite para que tussa com força e engula a seco por várias vezes;
- Se observar presença de pigarros ou “voz suja”, solicite pigarrear ou tossir com força e engolir a seco;
- Observe a melhor consistência a ser ingerida e, se necessário, suspenda certos alimentos ou modifique a consistência (amasse, misture com molho ou creme, liquidifique);
- Evite dupla consistência: mistura de líquido com sólido (engrosse o caldo da sopa e o caldo de feijão);
- Evite introduzir líquido para ajudar a engolir; o líquido pode escorrer para a garganta enquanto o idoso estiver mastigando;
- Se o idoso tosse ou engasga apenas com o líquido, experimente fazê-lo engolir com a cabeça discretamente fletida (queixo em direção ao peito) ou oferecer líquidos mais engrossados;
- Manter o idoso sentado ou o mais elevado possível após 30 minutos da refeição (evita o risco do alimento refluir do estômago para a garganta e broncoaspirar o conteúdo);
- Higiene Oral: É de extrema importância a realização da higiene oral após as refeições, pois evita que os resíduos e as bactérias proliferadas escorram para o pulmão junto à saliva. Consulte um profissional da saúde sobre a melhor forma de realizá-la.
Vale destacar que, em alguns casos, quando a disfagia está bastante prejudicada, é necessária a indicação de uma via alternativa de alimentação (Ex: Sonda nasoenteral, gastrostomia). A avaliação de todos os profissionais que acompanham esse idoso permitirá a melhor conduta.
As orientações destacadas são de aspectos gerais. Muitas vezes faz-se necessária a avaliação da deglutição realizada por um fonoaudiólogo para que as orientações sejam individualizadas.
O papel do fonoaudiólogo é garantir segurança (minimizar riscos de broncoaspiração) e eficiência (permitir a nutrição e a hidratação via oral) através de:
- Modificação na consistência alimentar;
- Orientações individualizadas;
- Indicação de exercícios específicos para melhorar a segurança e eficiência da deglutição de alimentos, líquidos e/ou saliva;
- Avaliar a necessidade de suspender a alimentação via oral.
Danielle Akemi Neves (Fonoaudióloga)
Especialista em Gerontologia UNIFESP
Mestre em Gerontologia UNICAMP
danielleneves@yahoo.com
Olá Danielle Akemi Neves
Adorei este artigo sobre “Disfagia”
Foi muito esclarecedor. É exatamente o problema apresentado por minha sogra após dois AVCs. Precisamos de profissional especializado em deglutição.
Estou tentando contato com vc.
Boa tarde, Rosemar.
Agradecemos o seu comentário.
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danielleneves@yahoo.com
Atenciosamente,
Equipe Conviva