Um dos maiores desafios políticos, sociais e econômicos da atualidade, especialmente em países em desenvolvimento, é lidar com o envelhecimento da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, chegando a 33,4% da população. Se por um lado, envelhecer é uma dádiva, uma grande conquista da humanidade, já que significa que vencemos a morte precoce, superamos a pobreza extrema, as doenças infecciosas e a falta de acesso aos cuidados básicos à saúde, temos então muitos motivos para celebrar. Por outro lado, ainda não sabemos envelhecer, ainda não sabemos aceitar a velhice e conviver com ela, ainda não há espaço e valorização adequada ao idoso em nossa sociedade. Temos muitos motivos para evoluir.
Segundo o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), a idade que marca o ingresso para a velhice é 60 anos, porém, como afirma Beauvoir (1990/1970) “A idade cronológica e a idade biológica estão longe de coincidir sempre: a aparência física informa mais que os exames fisiológicos sobre a nossa idade” (p. 40); sendo assim, não podemos homogeneizar os indivíduos desta faixa etária. A velhice deve ser pensada pela ideia de curso de vida, como um processo gradual que contempla a dimensão histórica, social e biográfica do indivíduo.
Os estudos apontam que o processo de envelhecimento biológico se inicia aproximadamente aos 30 anos, quando ainda pensa-se ser muito jovem para planejar a própria velhice; também indicam que apenas 30% do envelhecimento é representado pela genética, os outros 70% estão relacionados aos hábitos de vida, ou seja, podem sofrer influência de programas educacionais de promoção da saúde.
É muito comum relatos de idosos quanto ao desconhecimento de planejamentos financeiros, cuidados com a própria saúde, decisões quanto à profissão, ao tempo dedicado à família, entre outros, que teriam sido diferentes se soubessem o impacto que teriam na velhice.
Diante desta realidade, urge construirmos uma visão do envelhecimento não como uma fase da vida, mas como o resultado de um processo ao longo da vida, na qual medidas preventivas devem ser tomadas na tentativa de se garantir dignidade pessoal, capacidade de participação social e um envelhecimento autônomo e independente. Devemos buscar o que a OMS chama de envelhecimento ativo: “o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.
Neste âmbito, o conceito da palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, tornando a longevidade uma experiência positiva, mesmo que carregada de algumas limitações, trazendo maior qualidade de vida aos anos que conquistamos com os avanços.
É, ao longo do curso da vida, que as diferentes experiências, as influências biológicas e da cultura, vão contribuir para o aumento da capacidade de reserva cognitiva, emocional, funcional, relacional e financeira para a velhice. São essas reservas, nossas possíveis garantias de um envelhecimento ativo e bem-sucedido.
Alguns hábitos são comumente divulgados como benéficos para a promoção da saúde, tais como: praticar atividade física, alimentar-se adequadamente, não fumar ou consumir bebidas alcoólicas excessivamente, ter uma boa qualidade de sono, entre outros. No entanto, é preciso de muito mais para uma reserva adequada.
Pesquisa desenvolvida na Universidade de São Paulo apresentou a importância de controlar doenças crônicas como hipertensão e obesidade para evitar o aparecimento de demências.
Manter-se mentalmente ativo traz benefícios à memória e ao processamento das informações, para tanto é importante estar sempre envolvido, interessado em aprender coisas novas, desenvolver novas habilidades e capacidades. Por exemplo, um estudo desenvolvido na Universidade de Edinburgh, na Escócia, comprovou que idosos que aprenderam uma língua estrangeira ao longo da vida apresentaram melhores resultados principalmente em testes de atenção, foco e fluência; além de poder retardar o aparecimento dos sintomas da Doença de Alzheimer em 5 anos, segundo outro estudo desenvolvido no Canadá.
Atividades sociais, culturais e de lazer também produzem um efeito positivo na estrutura e função cerebral, além de favorecer a interdependência, a solidariedade, o convívio e a troca entre pessoas da mesma idade e diferentes gerações.
Independentemente das possíveis e discutíveis reformas na Previdência Social, é preciso um planejamento financeiro para a velhice. Período que pode ser de tempo livre para aproveitar em viagens, por exemplo, mas que também pode demandar muito recurso com tratamentos médicos. Envelhecer bem, com certeza também inclui uma reserva financeira apropriada, que deve surgir através de uma educação financeira a ser pensada ao longo de toda a vida.
Em resumo, o que queremos dizer até o momento é que envelhecer bem é apenas o resultado de uma vida inteira regrada, planejada, bem cuidada! Não se pode esperar chegar à terceira idade para preocupar-se com todos os aspectos que podem garantir uma velhice bem-sucedida, é preciso aprender a envelhecer muito antes disso; da mesma forma que passamos a infância e adolescência preparando o indivíduo para a idade adulta, devemos nos preparar para a terceira idade, minimizando as perdas funcionais e seus impactos. Programas educacionais, políticos, sociais, econômicos e de saúde devem ser desenvolvidos desde a infância, permitindo que se aprenda a conviver com os idosos que cada vez estarão em maior número na população e para aprendermos a envelhecer de forma ativa e com qualidade de vida.