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Doença de Alzheimer e a Síndrome do Pôr do Sol

homem idoso sentado e pensativo

Entre idosos que possuem Doença de Alzheimer, é bastante comum ocorrer em alguns dias uma alteração de comportamento no período do final da tarde (períodos crepusculares). Este fenômeno é conhecido como “Síndrome do Pôr do Sol”, e geralmente o idoso mostra-se bastante ansioso, agitado e muitas vezes agressivo, comportamentos que podem se estender por minutos ou até horas, fazendo com que a síndrome seja cansativa e esgotante não só para o idoso, mas também para seus familiares e cuidadores. Leia Mais

Curatela e Interdição para idosos com demência

A curatela existe, por meio da lei, para que alguém represente uma pessoa que apesar de ser maior de idade, se encontre incapaz de responder pelos seus atos, como o caso de um indivíduo portador da Doença de Alzheimer que não consegue responder por si mesmo.

Assim, é bastante frequente a Curatela de idosos, quando este começa apresentar dificuldades para exercer a vida civil, cuidar de si próprio e administrar seu dia-a-dia, o que pode comprometer sua saúde e subsistência. A instituição do Curador Responsável é feita por um juiz, através de advogado ou do Ministério Público.

A interdição serve como medida de proteção para preservar o idoso de determinados riscos que envolvem a prática de certos atos como, por exemplo, evitar que pessoas “mal intencionadas” aproveitem-se da falta de discernimento do idoso para efetuar manobras desleais, causando diversos prejuízos, principalmente, de ordem patrimonial e moral.

Para iniciar o processo de interdição, o idoso será avaliado por um médico que atestará o comprometimento do indivíduo, através da emissão de um laudo que servirá de orientação para o juiz decidir ou não pela interdição. Além disso, se houver possibilidade, o idoso deverá ser levado até a presença do juiz para que este possa conhecê-lo.

Portanto, a interdição declara a incapacidade do idoso que não poderá por si próprio, pratica ou exercer pessoalmente determinados atos da vida civil, necessitando, para tanto, ser representado por outra pessoa. Esse representante é o curador, que também terá uma série de obrigações, entre as quais, receber rendas e pensões, efetuar pagamentos, administrar bens, preservar os direitos da pessoa interditada, sempre prestando contas bienalmente.

A influência do ambiente na Doença de Alzheimer

O ambiente exerce uma grande influência no comportamento, humor e até na capacidade cognitiva do indivíduo que possui Alzheimer. Portanto, é muito importante que os cuidadores atentem-se para criar um ambiente adequado e favorável para aquele quadro.

Organização

A organização do ambiente é fundamental para auxiliar no controle da confusão mental e de manifestações comportamentais como ansiedade e agitação e, portanto, o ambiente deve ser o mais acolhedor e tranquilo possível, com o mínimo de situações que possam ser interpretadas como ameaçadoras pelo idoso.

É importante que o local seja livre de ruídos e barulhos e seja bem iluminado, mas não de forma tão forte que chegue a incomodar a visão, sendo interessante existir um equilíbrio entre a luz natural e a artificial com o passar do dia. Dentro do possível é importante regular a temperatura do local e sempre permitir a entrada de ar fresco.

É crucial que o ambiente seja limpo e que os objetos e mobiliário estejam distribuídos de forma a não atrapalhar a passagem do idoso. Além disso, em casos mais avançados, quadros nas paredes e espelhos devem ser evitados, pois podem levar o idoso à maior confusão ou até alucinação. Evitar mudanças drásticas e repentinas nesse ambiente é mais um fator importante, pois o idoso pode estranhar e perder seu referencial. Outra estratégia bastante eficiente é etiquetar gavetas e armários, pois assim o idoso consegue ter mais autonomia e encontrar o que deseja.

Localização afetiva, de tempo e de espaço

Para indivíduos com Alzheimer, é muito importante que o ambiente ofereça referenciais que o auxiliem a se orientar no espaço e no tempo. Dessa forma, a primeira recomendação é que exista um calendário à vista do idoso em um local que ele esteja várias vezes por dia, e o ideal é que o calendário seja grande e bem visível. Além disso, sempre que possível, o cuidador ou familiar deve recordar em voz alta aquela data, estimulando que o idoso a repita. O mesmo vale para relógios, assim como é possível relembrar com frequência as estações do ano ao contemplar o clima do lado de fora.

Além disso, enfeitar o ambiente próximo às datas comemorativas pode auxiliar o idoso a se situar naquela época do ano (exemplos: carnaval, páscoa, natal etc).

É extremamente importante que o indivíduo interaja com o ambiente em que ele está inserido. Assim, outra estratégia que pode ser utilizada é a estimulação olfativa, ou seja, proporcionar naquele ambiente cheiros que possam integra-lo naquele espaço, como aroma de comida próximo ao horário das refeições, o aroma do café logo pela manhã, o aroma de flores, entre outros. O mesmo vale para o visual, sendo importante o ambiente conter objetos familiares ao idoso, assim como retratos de pessoas queridas; e para o auditivo, sendo importante tocar músicas agradáveis ao idoso em momentos de contemplação, escutar o som da chuva, o som da panela de pressão próximo ao almoço, entre outros.

Segurança

Em qualquer local, a segurança do idoso deve ser prioridade e, para isso, é necessário que o cuidador, de forma bastante sutil, sempre esteja atento ao idoso, e além disso algumas medidas básicas devem ser tomadas. São elas: retirar tapetes e outros objetos que possam contribuir para a queda; utilizar tapetes anti derrapantes no box; utilizar barras de segurança nos banheiros e em corredores muito longos; se houver escadas na casa, ela deve ser bem iluminada e com corrimão em ambos os lados; trancar portas que possam dar acesso à locais perigosos; deixar a chave do carro em local de difícil acesso; fazer com que o idoso sempre leve consigo um documento e anotação com telefone para emergências.

Alzheimer: o cessar lento da memória, não dos laços afetivos

Silvana Aquino, psicóloga com vasta experiência em cuidados paliativos e uma estudiosa dos assuntos que permeiam a morte e o morrer, conta-nos por meio de um texto belíssimo como foi para ela cuidar de sua mãe que possuía a doença de Alzheimer e sua vivência do luto antecipatório.

 

“- Não tenho boas notícias para te dar…

– O que a minha mãe tem?

– Sua mãe tem doença de Alzheimer.

– E qual o tratamento?

– Prozac e amor.

Tive esse breve e impactante diálogo com o médico neurologista que acabara de fechar o diagnóstico da doença de minha mãe. O ano era 1994. Os sintomas haviam se intensificado nos últimos meses e era visível o seu desconforto com as alterações que ocorriam em sua mente confusa. Ali começava também o meu longo processo de luto. Não poderia dimensionar o quão severamente estaria ameaçada a sua marcante presença em minha vida. Ainda não podia prever as inúmeras perdas, simbólicas e concretas, que a doença progressiva e incurável nos traria ao longo dos 26 anos que convivemos com a degeneração gradativa e despersonalizante de suas funções. Olhei para ela e percebi a tristeza cortante em seus olhos. E, neles, vi o meu próprio reflexo, carregado de pesar, temor e impotência diante de um diagnóstico ainda tão pouco conhecido, mas já presente na história de nossa família, cuja lembrança nos parecia devastadora.

Por muitos anos, encontrei sérias dificuldades para lidar com as mudanças relacionadas às várias etapas que se sucediam e que falavam a respeito da piora inevitável da doença. Vivi um forte sentimento de desamparo, pois ainda sentia uma grande necessidade de receber cuidados e orientações para a minha vida, que ainda florescia. Era jovem e havia terminado a graduação em Psicologia, ao mesmo tempo em que ingressava no Mestrado e me preparava para casar. Vida nova, cheia de desafios e incertezas. Olhava para ela, e tudo o que eu queria era ouvir seus conselhos e contar com seu apoio, mas tudo o que ela precisava era que eu lhe ajudasse no banho e vestisse as suas roupas, porque ela simplesmente não sabia o que fazer com elas. Dali para a frente era ela quem contava com o meu apoio.

O progresso do Alzheimer desintegrou as experiências mais significativas de nossas vidas. Chorei a cada dia que amanhecia e que percebia uma memória a menos, uma tarefa simples que ela já não era capaz de executar sem a ajuda de terceiros, as bruscas e desesperadoras alterações de humor, tão duramente incompatíveis com sua doçura constante. Perdemos nossas tardes após o almoço, quando nos deitávamos juntas para folhear as páginas do jornal, perdi seus bolinhos de chuva (os melhores que já comi), e que ela preparava carinhosamente para receber minhas colegas da escola. Perdi a possibilidade de ouvir sua linda voz, cantando Benito di Paula, enquanto arrumava a nossa casa. Perdi a possibilidade de ser reconhecida quando ela passou a me olhar e a não me ver como sua filha, tão amada. Perdi a experiência de testemunhar sua alegria com o nascimento de seus netos, cujo crescimento ela não acompanhou. Foram eles que acompanharam o seu declínio.

Após o nascimento do meu primeiro filho, ela apresentou um quadro clínico agudo, que a levou ao CTI. Naquele instante, quando percebi a ameaça de perdê-la, fui tomada por um intenso processo de ampliação de consciência, que me fez substituir a revolta e a impaciência pela compreensão de que ela não tinha escolha para fazer diferente. Mas eu tinha. Conversei com meu pai, também afetado e confuso por todas as transformações que a doença trazia para as nossas vidas, e a partir da data de sua alta hospitalar e de seu retorno para casa, após 10 dias de internação, decidimos que assumiríamos, definitivamente, o lugar do cuidado na medida exata de sua necessidade. Desenvolvemos um forte sentimento de solidariedade e ajuda mútua, aprofundamos nossa dimensão espiritual e utilizamos os nossos recursos emocionais para fortalecer nossos laços de afeto. Investidos de uma atitude empática diante das suas dificuldades, decretamos que a partir daquele dia aprenderíamos a usar o bom humor para rirmos de nossas limitações e humanizarmos profundamente nossa relação com ela.

Vivemos intensamente cada dia em que estivemos ao seu lado. Comemoramos cada aniversário, porque sabíamos que era o que ela gostaria que fizéssemos. E me dei conta de que, apesar de a doença ter se manifestado numa fase tão precoce da sua vida e no final da minha adolescência, ela já tinha me deixado uma grande reserva de lições e ensinamentos, que eu não poderia desperdiçar. Além de um amor incomensurável e incondicional. Numa manhã, em 2004, quando eu já havia sido apresentada aos Cuidados Paliativos como parte de minha formação profissional e o praticava diariamente nos cuidados com ela, recebi o seu último presente. Antes de sair de casa para mais um dia de trabalho, como era de costume, fui ao seu leito para lhe desejar um bom dia e pedir a sua bênção. Ela estava especialmente desperta naquele dia. Olhou para mim, com olhos alegres e comovidos e disse: “minha filha!” Caí num pranto profundo, o mesmo que me toma agora, quando resgato essa lembrança. Fazia 4 anos que ela não emitia um único som! Foi a última vez que ela falou. Mas ali tive a certeza de que, se o Alzheimer destrói conexões neurais, ele não é capaz de atingir conexões afetivas.

A última fase da doença durou 15 anos, contrariando as estatísticas que estimam de 1 a 3 anos para a sua fase final. Viveu esse longo período acamada, com alimentação exclusiva pela gastrostomia, cuidada quase que 100% do tempo em domicílio, com ajuda de cuidadoras e serviço de home care, com internações pontuais apenas para o controle de sintomas por intercorrências inevitáveis. Aos 17 dias do mês de setembro do ano de 2015, no início da noite, minha mãe partiu. Meu pai me telefonou avisando que ela não reagia ao seu toque. Cheguei a casa logo em seguida e pude constatar sua expressão serena, apesar do seu corpo inerte. Também a morte tem a sua expressão.

Chorei copiosamente por alguns instantes, sentindo um misto de tristeza e alívio. Seu longo processo degenerativo chegava ao fim. Agradeci imensamente a Deus por sua partida ter ocorrido exatamente como imaginávamos: sem dor aparente, sem tratamentos fúteis e invasivos, em seu leito, no aconchego de sua casa, perto da gente. Meu marido, grande parceiro ao longo de todos estes anos, tratou de tomar as providências para resolver as questões práticas para o funeral. Optamos pela cremação e fizemos uma bela despedida, à altura da beleza que foi a sua vida. Depositamos suas cinzas no Alto da Boa Vista, na Floresta da Tijuca, lugar pelo qual ela tinha verdadeira adoração. Foi a forma que encontrei de integrá-la àquela atmosfera de natureza exuberante e significativa para a sua história.

Minha mãe marcou a vida de muitas pessoas, sempre bondosa, conselheira, amante dos estudos e grande incentivadora para que eu chegasse o mais longe possível em minha formação. Lembro-me de seu empenho e de seu investimento quando iniciei a faculdade. Já doente, durante os períodos de lucidez, ela sempre dizia: “Minha filha, se você tiver a vontade de estudar que eu tive e não pude, vou fazer de tudo para te proporcionar condições para que você conquiste o seu lugar. Mulher negra e pobre precisa se dedicar em dobro para conseguir o que deseja”. Nunca me esqueci disso.

O Alzheimer apagou a sua memória, mas jamais nos distanciou. Pelo contrário, nunca estivemos tão ligados uns aos outros, pois entendíamos que a doença era uma grande oportunidade de ampliar o significado que se atribui à vida em família. Somos todos passageiros e companheiros de uma jornada finita, e essa é a nossa única chance de fazermos desta travessia uma experiência transformadora e inesquecível. Contar a sua história e registrá-la em escritos é a forma que encontro de elaborar o meu luto. Quando a saudade aperta, subo o Alto e inspiro o ar puro que circula entre a vegetação. Ali, o oxigênio tem uma pitada de afeto materno, que renova as minhas forças. Sinto-me muito grata e honrada pela oportunidade de encontrar com essa mulher admirável que minha mãe foi. Sua presença segue comigo todos os dias, porque o seu legado vive dentro de mim”.

 

via Perdas e Luto

A educação como proteção contra demências

Atualmente, existem diversas hipóteses e pesquisas que buscam respostas para o que pode prevenir demências, como a Doença de Alzheimer ou aquelas decorrentes de complicações vasculares.

Um estudo divulgado pela revista científica britânica Brain, mostrou que pessoas com mais anos de escolaridade parecem ser capazes de amenizar os sintomas de demência em seus cérebros, quando comparadas à pessoas que estudaram menos.

Este e outros estudos deixaram claro que os riscos de desenvolver este tipo de doença é o mesmo, mas a probabilidade dos sintomas aparecerem durante a vida é menor entre aqueles que permaneceram mais tempo no sistema educacional. Aparentemente, cada ano adicional que o indivíduo estudou reduz em 11% o risco de desenvolver os sintomas de demência. Segundo especialistas, o cérebro é capaz de transformar suas células tronco em novos neurônios, independente da idade, e isso ajudaria a repor as células nervosas afetadas pela doença.

Estima-se que mais de 35 milhões de pessoas são afetadas por demências no mundo, em sua maioria pessoas com mais de 60 anos. Assim, como ainda não existem tratamentos eficazes que revertam o quadro destas doenças, é muito importante investimentos na educação para prevenir estes quadros.